Abaixo-assinado A Escola de Dança do Teatro Guaíra pede socorro
Para: Ilmo. Sr. Paulino Viapiana, Secretário de Estado de Cultura; Ilmo. Sr. Beto Richa, Governador do Estado do Paraná
Os abaixo-assinados vêm solicitar 1) que sejam tomadas medidas para que o projeto de reformas, que ameaça o funcionamento da Escola de Dança do Teatro Guaíra, não venha a prejudicar seus Cursos de Formação e Técnico, como indicam as informações que têm sido divulgadas pela imprensa (e que vêm sempre adjetivadas como “necessárias”). Solicitamos também 2) que, ao contrário, a preocupação do Estado seja manter e valorizar o quadro necessário de professores de dança e de pianistas para que a Escola continue podendo funcionar com a qualidade indiscutível que a caracteriza, e 3) que à Escola seja dada, como prometido, uma nova sede, adequada às suas atividades. Expomos a seguir a situação, como se encontra:
A Associação de Pais e Mestres da Escola foi apenas informada das reformas — e quase exclusivamente por meios de comunicação — não houve discussão alguma. O que se chama continuamente na imprensa de adaptações “necessárias” são “necessárias” por quê? A Escola de fato precisa de uma sede, e que não a inviabilize por ser pequena em demasia. Mas a Escola precisa também de novos professores (são quinze anos sem concurso público para repor os que se aposentam; e se a renovação docente tardar muito, uma quantidade imensa de conhecimento será perdida). Precisa de pianistas acompanhadores, pois os que há têm contratos temporários e dentro em breve pararão de trabalhar (no segundo semestre, agora, já não haverá acompanhadores!).
Só pela falta de pessoal, injustificada e injustificável, se pode pretender reduzir para 4 anos o tempo de formação básica dos bailarinos — 8 anos, como agora, são o mínimo necessário e o que há em todas as grandes escolas de balé do mundo. Pois o balé exige desenvolvimento motor, técnico e artístico intenso desde muito cedo. A Escola de Dança do Guaíra tem uma enorme tradição, uma qualidade de corpo docente que a põe entre as melhores do país e sempre primou na formação de bailarinos. Há ex-alunos seus em corpos de baile mundo afora; dela nasceram o Corpo de Baile do Teatro Guaíra, e a Escola Superior de Dança, que agora é parte da Faculdade de Artes do Paraná; os próprios parâmetros curriculares do ensino da dança como arte, implantados pelo Ministério da Educação, foram desenvolvidos na Escola. A Escola é um centro de excelência em dança, com 56 anos de existência.
A Escola precisa de funcionários, professores e pianistas acompanhadores, sim. Precisa, também, de um novo espaço, e a sede que lhe foi prometida mas sempre adiada — o prédio onde hoje funciona a Secretaria de Cultura na Rua Andrade Muricy — seria excelente e um motivo de justo orgulho e de visibilidade para toda a sociedade paranaense. Seria, também, de fato bom que houvesse uma exposição melhor da Escola e dos seus resultados (é do conhecimento de V.Sa., por exemplo, que a Escola recentemente mandou 19 coreografias para o Festival Nacional de Dança em Rio do Sul e com elas ganhou 14 prêmios?).
A Associação de Pais e Mestres não é contrária à redistribuição de cargas horárias e currículo, pois tem toda a confiança seu corpo docente e nas alterações que este propuser. As crianças que começam na iniciação ao balé, hoje, têm aulas com caráter lúdico. A diferença entre isso e o que parece se pretenda fazer é que hoje elas têm a ludicidade como parte da formação — como garantia de aquisição de conhecimento — e não apenas no sentido de diversão. Mas começar aos doze anos, que na formação de bailarinos é já metade da carreira, é um despropósito. E isto foi divulgado pela direção do Guaíra em matéria publicada na Gazeta do Povo. Se os bailarinos terão lugar na Escola a partir dos 12 anos, as crianças precisarão, até então, de freqüentar escolas particulares para início de sua formação como bailarinos. Por que fazer de uma escola do estado uma instituição elitista? É isto que se entende por “reforma necessária”? Se houvesse, eventualmente, também cursos livres, além dos de formação, poderia ser ótimo. Mas como? Se a Escola não tem sido apoiada nem para a manutenção do que é — isto é, com professores e pianistas e também com uma nova sede — e o interesse que parece haver, da Secretaria de Estado, é torná-la mais superficial e mais “econômica”?
As informações são sempre vagas e contraditórias, e o processo todo é nebuloso e autoritário. Muitos dos pais são pessoas simples, pois a escola é hoje aberta à comunidade. Mas há também bailarinos, artistas e muitos outros que têm uma noção clara da importância da Arte da Dança na formação das crianças que demonstram vocação desde cedo, e da enorme ascenção social que essa possibilita. Seria bom que o Governo do Estado demonstrasse, pela ampliação da Escola e de seu escopo, ter também esta consciência. Nestes termos, solicitamos a Sua atenção para nossas demandas apresentadas acima.
Curitiba, 21 de junho de 2012.