Carta aberta dos servidores de Superintendências e Agências do IBGE
Para: Márcio Pochmann, presidente do IBGE
Nós, servidores do IBGE lotados em Agências e Superintendências espalhadas pelo Brasil, que compomos a área operacional desta Instituição há quase 90 anos, queremos expressar nossa estranheza no que diz respeito às manifestações recentes de alguns colegas lotados nas unidades centralizadas do IBGE no Rio de Janeiro. Em especial, servidores ora lotados no prédio situado na Avenida Chile.
Os colegas reclamam do que seriam posturas autoritárias e desrespeitosas e alegam que o clima organizacional está deteriorado. Talvez falte a eles algum tipo de autocrítica, ou mesmo a visão do todo.
Há algum tempo, já fazem alguns anos na verdade, estamos trabalhando prioritariamente de forma presencial. Por óbvio, pois a atividade de coleta de dados exige o contato com o informante para ser realizada com sucesso. Assim, a nós pouco importa o debate acerca do trabalho remoto integral, condição à qual não temos acesso - pelo menos se quisermos cumprir com nossas funções e entregar os resultados com os quais nos comprometemos.
As diretorias do IBGE, lotadas nas unidades centralizadas do Rio de Janeiro, estabeleceram há algum tempo uma reorganização da rede de agências de coleta. Algumas unidades foram fechadas, fundidas e outras novas abertas. Algumas tiveram sua abrangência aumentada, o que trouxe acréscimo nos tempos de deslocamento para a realização dos trabalhos in loco. Aqui, falamos de deslocamentos intermunicipais no interior do Brasil, e não de uma pequena diferença de bairros dentro de uma metrópole e antiga capital.
Historicamente, a condução dos trabalhos no IBGE vem sendo pautada por decisões e critérios que pouco levam em conta os anseios e a experiência da rede de coleta, responsável direta pela realização da atividade fim do órgão e, consequentemente, pelo cumprimento de sua missão institucional. Algumas escolhas são feitas à revelia de quem não está nas unidades centralizadas, e justamente quem não é consultado acaba sendo penalizado.
O maquinário adquirido, via de regra, é inadequado para a realização dos trabalhos. Carros baixos para incursões no campo em áreas de difícil acesso, dispositivos de coleta que utilizam-se de tecnologias e hardware defasado, aplicativos de difícil instalação e utilização restrita são desafios com os quais, diariamente, a rede de coleta precisa lidar. E por mais que haja sugestões, pedidos ou mesmo reclamações expressas, raramente as contribuições da rede são colocadas em pauta. E quando são, os avanços são ainda mais raros.
Agências e mesmo Superintendências instaladas em imóveis no mínimo inadequados para o exercício do trabalho. Recursos de comunicação (internet principalmente) precarizados e impactando na produtividade. Falta de pagamento de aluguel de imóveis utilizados, trazendo constrangimento e situações vexatórias para os ocupantes.
Entendemos que a independência e a autonomia técnica e metodológica do IBGE são a fonte de sua credibilidade. Assim, não nos parece positivo o estabelecimento de parcerias do IBGE com a iniciativa privada, por meio da nova Fundação IBGE+. Por outro lado, também rejeitamos o fato de que manifestações de parte dos servidores, que por sinal pensam ou querem fazer pensar que representam a totalidade do corpo técnico e operacional do IBGE, sejam oferecidas a grupos políticos cujo objetivo é tumultuar e descredibilizar a instituição.
Enfim, o clima organizacional está deteriorado e não é de hoje. As equipes das agências espalhadas pelo Brasil encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções. E não percebemos nenhum tipo de solidariedade ou mesmo de apreço por parte dos colegas lotados nas unidades centralizadas do Rio de Janeiro. Por isso, não vemos outro caminho senão solicitar apoio do Presidente do IBGE, Sr. Márcio Pochmann, e da sociedade para que nossas demandas sejam ouvidas.